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As crianças tem Sexualidade?

  • Foto do escritor: Sayuri Suezawa
    Sayuri Suezawa
  • 23 de out. de 2024
  • 5 min de leitura

Sim, crianças têm sexualidade, mas a sexualidade infantil é muito diferente da sexualidade adulta. A sexualidade na infância envolve a descoberta do próprio corpo, uma curiosidade sobre as diferenças do corpo de outras pessoas, a busca por afeto, intimidade e vínculos emocionais. Não tem caráter erótico ou de desejo sexual, mas está relacionada a compreenssão da própria identidade e das interações humanas.


O mito da "pureza" infantil


A ideia de que as crianças são "puras" e que não devem ser expostas a informações sobre sexualidade vem principalmente de construções culturais e religiosas. A noção de pureza infantil foi amplamente reforçada durante o período vitoriano, no século XIX, quando a sociedade passou a associar a infância com inocência, daquele que nasce sem pecado, “imaculadas”. Essa perspectiva buscava “proteger” as crianças de qualquer contato com temas considerados “imorais”, reforçando a visão que tudo que se relacione ao sexo como pecado. Existe muita confusão sobre o se trata a Educação Sexual, muitas pessoam tem a ideia errada de que é sobre ensinar como "fazer sexo", sendo que sexualidade é algo muito mais amplo e aborda questões importantes sobre segurança, autocuidado, autoestima e respeito. Ainda hoje, falar de sexualidade para crianças é visto como algo inapropriado, com o mito de que isso "despertasse" impulsos que deveriam ser evitados.


Acontece que toda criança tem um corpo com sensações e sentimentos, ou seja: criança sente prazer. Obviamente ela sente de uma forma diferente de um corpo adulto, seu corpo não está desenvolvido e sua cabeça não possui memórias de vivencias sexuais, pois a criança não viveu essa interação para além do proprio corpo com a masturbação e até mesmo ela é diferente pois não tem contexto de erotismo como é para adultos.


Em algum momento, principalmente próximo da adolescência (por volta dos 11 à 12 anos) a criança começa a ter sensações físicas mais intensas. Nessa idade a masturbação que antes era mais próxima de um “carinho” ou um “passar a mão” ou “segurar” de vez em quando a região genital, se torna mais intensa e frequente. As crianças descobrem uma sensação de algo mais e vão se tocar ou até mesmo usar objetos tentando entender as novas sensações.


Nessa idade existe um incentivo para meninos provarem sua masculinidade atraves da masturbação, que é vista como um comportamento normal do homem. Já meninas desde muito antes dos 12 anos tem a masturbação proibida, então quando essa idade chega muitas não voltam a ter interesse em tocar na região íntima, o que mais para frente resulta em mulheres que nunca se tocaram, não sentem prazer, nem desejo criando dificuldades para desenvolver uma vida sexual feliz e ativa na vida adulta. Nessa idade é comum que crianças mais velhas tentem experimentar sensações com crianças mais novas, o gera muito espaço para abusos entre elas.


A Importância de Ensinar Sobre Sexualidade


O maior problema do mito de que conversar sobre sexualidade é algo que estimula, é que ele priva as crianças de informações fundamentais sobre o próprio corpo, limites e respeito. A educação sexual apropriada para cada idade ajuda a prevenir abusos, a diminuir a curiosidade da criança pelo “assunto proibido” e a desenvolver autoestima, criando uma base saudável de conhecimento para o desenvolvimento sexual e emocional no futuro.


Ensinar sobre sexualidade não significa falar sobre sexo em termos adultos, mas sim educar sobre o respeito ao proprio corpo e ao corpo do outro, funcionamento do corpo, consentimento, higiene e relacionamentos saudáveis.


A modernidade e a psicologia infantil mostraram que a “educação sexual do silêncio” pode levar a desinformação, vulnerabilidade a abusos, hipersexualização e à construção de ideias distorcidas sobre sexualidade, que geram imenso sofrimento na adolescência e na vida adulta.


Guia rápido de temas de Educação Sexual Infantil para cada idade:

 

18 meses a 3 anos: Higiene, Intimidade, Privacidade e Segurança

 

  • Ensinar sobre a importância da higiene, como tomar banho e lavar as mãos.

  • Nomear corretamente as partes do corpo, usando termos como "pênis" e "vulva".

  • Introduzir o conceito de privacidade, explicando a diferença entre o que é público e o que é privado (ex.: ir ao banheiro ou trocar de roupa são coisas feitas em espaços privados).

  • Ensinar sobre segurança (partes do corpo que outras pessoas não devem tocar, exceto para fazer higiene como os genitais, mamilos, pescoço, boca...)

  • Ensinar sobre carinho bom e toque ruim, carinho é algo que faz nos sentir bem e não precisa ser segredo nem é feito escondido. Toque ruim é quando uma pessoa toca qualquer parte do corpo e nos sentimos estranhos, sentimento confuso ou ruim, ou não foi ruim mas a pessoa pede segredo, devemos orientar que a criança deve procurar mãe, pai ou cuidador e falar sobre esses sentimentos e acontecimentos.‌


3 a 6 anos: De onde vêm os Bebês

 

  • Responder perguntas sobre gestação e nascimento de forma lúdica e direta, material didático ilustrativo adequado para idade.

  • Explicar de forma simples o papel do útero, óvulos e espermatozoides na criação de bebês.

  • Não proibir mas também não estimular a exploração do corpo, apenas normalizar quando a criança se tocar na sua frente e reafirmando a importância da privacidade e da higiene (ex.: tocar-se somente em ambientes privados como o quarto ou banheiro, estar sozinho (a), estar com mãos limpas, não usar nenhum objeto).‌


6 a 8 anos: Funcionamento do Corpo

 

  • Dar explicações mais detalhadas sobre o funcionamento básico do corpo e reprodução, com foco em células reprodutivas como óvulos e espermatozoides. Use livros ou fotos didáticas sobre orgãos genitais.

  • Complementar o que as crianças aprendem na escola sobre reprodução, mantendo um espaço aberto para perguntas e esclarecendo dúvidas. Aqui os pais constroem uma relação de confiança, onde a criança sabe que poderá sempre se abrir com seus pais quando tiver dúvidas.‌


8 a 12 anos: Puberdade, Menstruação e Ejaculação

 

  • Falar sobre as mudanças corporais antes que aconteçam, como menstruação e ejaculação noturna.

  • Reforçar a importância da higiene para lidar com essas mudanças.

  • Introduzir o tema de relacionamentos saudáveis, ensinando sobre autenticidade, respeito e como cultivar boas amizades.


12 a 14 anos: Masturbação, Contraceptivos, Pornografia e DSTs

 

  • Abordar o tema da masturbação, explicando que é uma prática natural e privada.

  • Discutir os riscos da pornografia, explicando como ela pode distorcer a visão da sexualidade e do corpo humano.

  • Ensinar sobre métodos contraceptivos e como prevenir DSTs, explicando como se proteger e tomar decisões informadas.

  • Dar ao adolescente autonomia para explorar sua sexualidade de maneira segura, mantendo a comunicação aberta para dúvidas e orientação.

  • Respeitar a privacidade dos adolescentes, não impondo portas abertas nem entrando sem bater na porta. O proibicionismo expõe os adolescentes a situações de risco e vulnerabilidade totalmente desnecessárias como ter relações em locais públicos, terrenos baldios, carros, escola ou na casa de alguém que você não conhece, proibir também estimula a curiosidade e vontade de rebeldia por quebrar regras dos pais.‌

    A partir dos 15 anos se você não estabeleceu um vinculo de confiança, dificilmente o adolescente irá querer te ouvir, mas ainda assim você deve tentar ter essas conversas, pois muitos iniciam a vida sexual até muito antes dessa idade, quer os pais queiram ou não. Sendo a fase mais intensa entre os 15 e 25 anos que requer muita orientação para evitar situações de abusos, traumas e relacionamentos tóxicos.

 

Se você quer aprender como conversar com sua criança ou adolescente faça uma orientaçao para pais, mães e cuidadores, preencha o formulário no site agende uma orientação online gratuita.



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